Sem tempo para sutileza

O mundo anda sem tempo para a sutileza. É uma arte em desuso. Pode reparar: o não-dito, o subentendido, a delicadeza. São coisas cada vez mais raras.

Hoje, tudo é gritado, esfregado na cara, explícito. Marcas d’água inundam comerciais com medo de que alguém não consiga entender do que se trata. Jingles viraram briefings cantados. Parece que vivemos dentro de um bloco comercial ruim onde todos os gerentes enlouquecem simultaneamente. O problema é que, se todo mundo grita, ninguém consegue escutar.

Sigmund Freud, disse certa vez que “a voz do inconsciente é sutil, mas ela não descansa até ser ouvida”. Tinha toda a razão. Confundimos sutileza com falta de assertividade, jeito com falta de força, nuance com falta de objetividade.

Computadores, por sua vez, não são muito afeitos a sutilezas. Trata-se de uma ciência exata. Sem consciência. Sem sentimento. Desprovido de emoções. É tudo uma questão de zero ou um, dados, algoritmos. Pergunte qualquer coisa ao ChatGPT, e ele tentará dar a resposta mais exata possível. O problema — Freud novamente nos ajuda a explicar — é que as pessoas não são uma ciência exata. E se tem uma coisa que o SXSW, Steve Jobs, o fundador da Open AI e praticamente todo mundo concorda é que inovação não é sobre tecnologia. Mas sobre pessoas.

A inteligência artificial generativa pode ajudar você a executar praticamente qualquer tarefa em menos tempo. Mas ela nunca vai poder aproveitar esse tempo pra melhorar o pace na corrida, tirar aquela música que você tanto queria na guitarra ou descobrir o sabor de um negroni de bergamota enquanto discute um episódio de “The Last of Us” com os amigos.

No mundo da pressa, buscamos ser cada vez mais como os computadores. Precisos. Objetivos. Sem tempo para amenidades. Sem tempo pra humanidades. Em busca da eficiência explicamos tudo nos mínimos detalhes até não deixar mais qualquer espaço para a imaginação, mesmo sabendo que a imaginação é das coisas mais poderosas que existem.

Por isso, ao invés de discutir se as máquinas vão tomar o lugar da gente, talvez fosse melhor a gente tentar se parecer menos com elas. É uma mudança sutil. Mas a sutileza, você sabe, é o que faz toda a diferença.

 

Rafael Merel, 09/05/2023

 

O artigo completo publicado no site da Meio&Mensagem pode ser lido clicando no link abaixo:

https://www.meioemensagem.com.br/opiniao/sem-tempo-para-a-sutileza

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